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Eu nunca movi
sequer uma palha para afastar Michele da sua crença, e ela, tampouco, jamais
tentou me dissuadir das minhas antigas convicções antirreligiosas, porque sabia
muito bem o quanto elas, pelo menos até ali, eram inabaláveis, amparadas que
estavam em conhecimento científico, em lógica filosófica e em História. Mas
também, ainda que eu andasse de braços dados com a Ciência, nunca concordei e
permaneço discordando da tese simiesca do Darwin, segundo a qual descendemos de
macacos. Por outro lado, ainda que eu não negasse a passagem de Jesus pela
Terra, distante estava de acreditar que certas passagens da Bíblia podiam ser
verdade, como, por exemplo, aquela do peixe glutão que engoliu um Jonas
malcriado, para, mais adiante, vomitá-lo numa praia; bem como em outros relatos
de igual inverossimilhança encontradas na Bíblia. Minha posição, hoje, é bem
diferente daquela de descrença, porque, de um modo ou de outro, vou recebendo
revelações que pulverizam completamente as minhas dúvidas. Esta do Jonas engolido
por um peixe, que eu achava o cúmulo do exagero, é um bom exemplo, vez que,
recentemente, eu soube de um caso acontecido com um marinheiro inglês nas ilhas
Malvinas, que, tendo sido engolido por um cachalote, um peixe que pode chegar a
até 25 metros de comprimento, foi retirado vivo de dentro do cetáceo depois de
ter ficado dentro dele por 15 horas. É conhecido também o caso de outro
marinheiro inglês, que caiu no canal de Calais,
e foi tragado por um imenso tubarão da espécie "Rhincodon Typus",
mais conhecida como "Tubarão Baleia". Este ficou dentro do Rhincodon
durante 48 horas, e algumas horas após ser resgatado, estava em bom estado, e
foi exibido ao público no Museu de Londres. O fato é narrado no livro "The
Harmony Science and Scripture", de Harry Rimmer, onde o autor conheceu
pessoalmente o personagem da história. Se o leitor quiser saber detalhes desses
casos, basta entrar na Internet, abrir o navegador Chrome e digitar na Barra de
Endereço do navegador: “marinheiro engolido cachalote”
Além do culto
dominical, passamos a freqüentar também, às terças-feiras, as reuniões do grupo
familiar que acontecem na residência de um dos casais da igreja, conhecidos por
Líderes de Grupo. O grupo familiar é como se fosse uma representação menor da
igreja, com cada grupo contendo um número variável de crentes e seus
respectivos familiares, sendo que, para melhor identificação, cada grupo adota
um nome de inspiração bíblica. Desse modo, os membros da igreja podem se reunir
na casa de um daqueles casais de líderes, a que estiver localizada no seu
bairro ou ponto mais próximo da própria moradia, ocasião em que se celebra um mini
culto de adoração, leitura e estudos bíblicos, pregação e orações em favor dos
que estiverem sofrendo de alguma problema seja de ordem espiritual, física ou
mesmo material. Começamos então a frequentar as reuniões de um desses grupos, e,
nas reuniões à qual comparecíamos semanalmente, acontecia algo extraordinário
comigo e que considero como o primeiro degrau daquela seqüência de passos que
me levaram à Verdade: eu, que não passava mais de meia-hora sem a fumaça de um
cigarro, permanecia ali na reunião, que dura cerca de 2 horas, sem sentir a
menor vontade de fumar, e isto, sem sofrimento algum, até porque eu nem me
lembrava do cigarro.
Mais adiante,
porque o grupo, em função de novas adesões, havia ficado num tamanho que
ultrapassava os limites da boa acomodação, foi o mesmo dividido em duas partes,
ocasião em que fomos transferidos para um novo grupo que estava sendo formado, e
foi neste que aconteceu o meu segundo degrau em direção a Jesus:
Nas reuniões do
grupo familiar, os filhos dos membros também compareciam e, dentre os pequenos,
eu observava uma menina que, aos meus olhos, devia ter seis anos de idade. Ela
não brincava como as outras. Ficava, maioria das vezes, recolhida a um canto,
semblante tristonho, descorada e, porque pouco comia por causa da inapetência,
muito magra... Parecia sofrer de alguma enfermidade, hipótese que acabou se
confirmando quando perguntei à sua mãe o porquê daquela postura de isolamento e
estado de prostração. A menina sofria de uma enfermidade chamada de Doença
Granulomatosa Crônica, que expõe os portadores a infecções por bactérias e
fungos oportunistas, desses comuns aos quais estamos sempre em contato, mas
que, por conta da proteção natural imunológica, não progridem quando invadem o
nosso organismo. Essa proteção está presente no sangue sadio, mas não no sangue
do portador dessa doença. Por isso, a menina, conhecida mais pelo carinhoso
apelido de Dudinha, por não contar com
um componente importante de defesa no sangue, o peróxido de hidrogênio e outros
oxidantes necessários para eliminar certos microrganismos, estava sempre
doente, acometida por alguma infecção e se empanturrando de antibióticos,
porque não havia outro caminho de tratamento convencional. Para a sua cura, só
havia uma solução no universo da Medicina: o transplante de medula. No universo
espiritual, só o poder de Deus poderia acabar com aquele mal; e por conta da fé
nEle, é que os membros viviam em orações, pedindo que, nas campanhas que faziam
em praças públicas, aparecesse um doador de medula compatível com o da Dudinha.
E eu ficava ali, mortificado por assistir, em todas as reuniões, àquele drama
vivido pela pequena e por seus familiares.
Eis que, numa dessas reuniões, a
mãe da Dudinha, anunciou que, naquela semana, estava levando a menina a uma
consulta no Rio de Janeiro, que já estava programada para acompanhamento da
enfermidade. E foi ali que me veio à mente uma disposição de fazer algo que,
por temer as consequências, acabei não fazendo. Deu-me uma vontade quase
irresistível de ajoelhar-me ali, no meio da reunião, trazer a pequena Dudinha
para perto de mim e, abraçado a ela, elevar os meus olhos para o alto em
direção a Deus e dizer em voz alta:
“Pai, eu não tenho religião, eu
não faço obrigação alguma em reverência a Ti, e a maioria dos seus mandamentos
eu ignoro; mas eu sei que Tu existes, que és o Criador de tudo e que és Pai de
todos nós, e tanto sei, que busco um sinal Teu há mais de 40 anos. Pai, essa
oportunidade de me mostrares um sinal temos agora nessa criança tão doente.
Cura essa criança, Pai, eu te peço, porque sei que Tu podes; e peço por ela e
por sua família, e não por mim, porque não mereço bem algum de Ti. Cura, Pai,
porque, curando-a, estarás também curando-me dessa longa busca por um sinal teu”.
Mas essa disposição ficou
apenas no meu coração e nas lágrimas que, a custo, consegui conter. É que
fiquei preocupado com o que considerei como possível consequência daquele
procedimento que ali cogitei de levar adiante. Todos sabiam que eu não era
ainda convertido à fé evangélica, que eu comparecia ao grupo apenas para
transportar a esposa, e que lá permanecia simplesmente porque, residindo o
casal anfitrião numa ampla e confortável moradia, mas, a grosso modo dizendo, dentro
do mato, não havia, nas redondezas, um barzinho, sequer uma tendinha, onde eu,
bebericando e fumando, pudesse fazer hora enquanto transcorria o evento
religioso. Ora! Em tal condição, que faculdade ou direito teria eu para
importunar Deus, pedindo pela Sua intervenção curadora, ainda que o meu pedido
estivesse embasado na mais pura sinceridade? Os crentes que ali estavam, cumprindo
com os seus deveres e, ainda que hipoteticamente, em harmonia com os
mandamentos divinos, esses, sim, é que teriam o direito de se dirigirem a Deus.
Fiquei imaginando o anfitrião passando-me uma reprimenda diante de todos, por
causa da minha jactância de achar que eu merecia, mais que os outros, ser
ouvido por Deus. Hoje, sei que o que eu cogitava de acontecer da parte do irmão
não passava de um consumado absurdo na minha cabeça; mas, naquela época,
ignorante de quase tudo relacionado com a fé evangélica, cheguei mesmo a imaginar
o irmão anfitrião, depois da minha oração, se ela tivesse acontecido, aconselhando-me
a “tomar um ar fresco no quintal” até o término do culto. A providência então
adotada por sugestão de um dos crentes foi a de todos acertarem os seus
aparelhos celulares para despertar diariamente às 13 horas, momento em que
todos orariam, estivessem onde estivessem, em favor de Dudinha, para que
encontrássemos logo um doador de medula compatível com a da menina.
Na reunião seguinte, a mãe de Dudinha
vem com ela e os demais irmãos ao culto do grupo e anuncia o resultado dos
exames feitos no Rio de Janeiro. Os exames indicavam que Dudinha estava curada
daquela enfermidade, sem necessidade alguma de transplante de medula e sem os
médicos entenderem como é que a cura completa pudera acontecer. Até mesmo a
deterioração óssea que, por efeito da doença, vinha atacando a extremidade do
seu fêmur, nem essa existia mais. O osso estava perfeito, tendo voltado à sua
estrutura normal. Um milagre completo aconteceu.
Permanecer por mais de 2 horas, sem sentir vontade alguma de fumar enquanto
estava participando de reunião do grupo familiar; e a cura de Dudinha foram
então, respectivamente, os degraus primeiro e segundo da minha caminhada rumo a
Jesus.
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Cap. 7 — Os Dois Primeiros Degraus: Duas Horas sem Fumar e a Cura da Dudinha — Parte 2 de 2
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